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Contradições das Tecnologias Avançadas

 

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CONTRADIÇÕES  das

TECNOLOGIAS  AVANÇADAS

 

 

 

         As descobertas científicas têm produzido, em prazos cada vez menores, inovações tecnológicas que são conhecidas através dos seus produtos e serviços. No entanto, quanto mais avançada for a tecnologia, maior será o risco de ocorrerem contradições culturais ou ambientais que dificultem a sua transferência e utilização efetiva.

 

         Como estamos no início da era da informação, recém saídos da segunda onda, a industrial, sofremos as consequências naturais das mudanças, ora excessivamente retardadas, ora muito radicais, tendo-se que conviver com as perplexidades e paradoxos dos novos paradigmas.

 

 

 

PERPLEXIDADES, PARADOXOS e PARADIGMAS

 

         Paradigmas são modelos, padrões ou normas, que no ambiente científico têm significado o conjunto de conhecimentos partilhados pela própria comunidade científica.  Foi Thomas Kuhn, físico e filósofo da ciência, que em 1962 definiu “paradigma” através da publicação da Universidade de Chicago - A Estrutura das Revoluções Científicas - em português divulgado pela Editora Perspectivas. Na ocasião ele classificou de normal a ciência desenvolvida pela maioria dos cientistas, conhecedores de determinados aspectos do mundo, até que alguma anomalia ocorra, e que seja necessária outra abordagem para justificar a referida anomalia. Se novas leis, teorias, aplicações e instrumentalizações forem compartilhados pela comunidade científica, pode-se dizer que está surgindo um novo paradigma.

 

         Estamos vivenciando intensa modificação de paradigmas, em particular no relacionamento humano e organizacional. A Tecnologia da Informação é causa e consequência de muitas dessas mudanças. Entramos no domínio dos sistemas dinâmicos, nos quais os objetivos mudam com tanta velocidade que os métodos precisam ser ‘flexíveis’. Métodos flexíveis há poucos meses atrás soava como uma heresia tecnológica, pois método é o caminho para o objetivo. A turbulência que nos envolve é muito grande, e as perturbações dos sistemas dinâmicos começam a ser tratadas em termos matemáticos pela Teoria do CAOS, o mais novo paradigma da ciência. 

 

         A nossa perplexidade é razoável. Perplexidade no sentido de embaraço por não saber que decisão tomar. Perplexidade na  desestruturação familiar e social, nas irresponsabildades do trânsito, na incompetência dos dirigentes, nos desvios religiosos e na nossa falta de ética. Como decorrência, a hesitação profissional e organizacional nas empresas foi ampliada para níveis também insuportáveis, e em todas as áreas surgem soluções paradoxais: alternativas contraditórias pelo menos nas suas aparências, que podem contrariar a opinião comum.  Selecionar paradoxos coerentes com o ambiente e os objetivos a serem atingidos é uma alternativa para reduzir as perplexidades do momento. A coerência pode ser entendida como a coesão da essência, onde se identifica a união íntima e harmônica das partes fundamentais da questão, produzindo adesões recíprocas nas soluções.

        

         Tem causado perplexidade o imobilismo gerencial face às anomalias da atualidade organizacional, não solucionadas pelos princípios administrativos convencionais. Em consequência surgiu a Reengenharia, o mais recente paradigma tecnológico para as mudanças empresariais. Fundamentada na Tecnologia da Informação, é uma solução paradoxal, e pode gerar mais perplexidades do que as já existentes, porque acelera o fluxo e as ansiedades crescentes de informação, nem sempre atendidas pela automatização.

 

 

TECNOLOGIAS  AVANÇADAS

 

         Quando se introduz uma tecnologia avançada em determinado ambiente, muitos processos ainda permanecem vinculados às tecnologias anteriores, provocando as contradições tecnológicas da atualidade. As mudanças empresariais dependem, além da Tecnologia da Informação, das demais tecnologias que dão suporte às atividades-fins das organizações, e a integração de tecnologias é mais um desafio a ser gerenciado.

 

 

 

         Têm sido consideradas avançadas as tecnologias relacionadas à:

 

                   - novos materiais;

                   - química fina;

                   - mecânica de precisão;

                   - microeletrônica e

                   - informática.

 

         Outras áreas de atividades tecnológicas vêm sendo incluídas nesta relação, como a biotecnologia e a ecologia. Cada uma delas trás seus elementos inovadores e cria demandas de novos conhecimentos para as demais tecnologias e seus usuários. A entrevista do presente artigo é sobre os novos materiais.

 

         Nem sempre os benefícios da adoção de uma tecnologia avançada são tão evidentes quanto os seus custos, e estas contradições podem desestimular decisões gerenciais importantes para o futuro das organizações.

 

CONTRADIÇÕES

 

         As contradições tendem a diminuir se ocorrer a integração preliminar dos estudos estratégicos da empresa, em acordo com o seu negócio e objetivos futuros, com a assessoria específica sobre as tecnologias avançadas, a serem questionadas face aos estudos de casos afins.

 

         Constantemente somos agredidos por procedimentos avançados que nos passam a idéia de retrocesso ou incompetência. A cada acidente na adoção de um avanço tecnológico, criam-se anticorpos que dificultam futuras ações de modernidade. Por outro lado, com a lentidão dos estudos mais cautelosos, a oportunidade da mudança empresarial pode ser perdida.

 

         Considerações ambientais e culturais precisam ser feitas com:

 

                   - acuidade (agudo, perspicácia, visão fina ou precisa);

                   - equidade (igualdade ponderada, retidão);

                   - agilidade  (rapidez, desembaraço).

 

         A resposta adequada ao imobilismo gerencial em decorrência da necessidade de mudanças tem sido muitas vezes desvirtuada pela arrogância tecnológica da sua implantação no ambiente. Estes extremos precisam ser neutralizados. Criar um mentalidade tecnológica e humanística nas organizações é a melhor alternativa para o presente momento. Conscientes de que as contradições tecnológicas são maiores para os paises que importam tecnologia, é razoável que as referidas contradições ambientais e culturais também sejam maiores para as empresas que se posicionarem fora dos avanços tecnológicos. O ingresso no mundo da tecnologia para estas empresas costuma ser traumático devido à necessidade momentânea de reconstrução dos seus processos produtivos e gerenciais, em harmonia com a mentalidade dos participantes da mudança organizacional. Os processos caracterizam o ambiente e a postura mental das pessoas reflete a cultura estabelecida. A introdução traumática de novos recursos tecnológicos na empresa pode romper os vínculos estabelecidos, sem a oportunidade de criar novas bases produtivas. Por outro lado, a introdução estratégica das tecnologias é o caminho para as mudanças exigidas pelo momento.

     

         Pequenos exemplos evidenciam as contradições a que nos expomos quando são adotadas novas tecnologias, mesmo as mais simples, sem o acompanhamento das modificações do ambiente: palestras utilizando projeção de imagens diretas do computador (data-show) sem a facilidade de controlar a luminosidade do local têm repercutido mal, quer seja pela má visibilidade ou pelas panes sem alternativas de solução imediata. Como consequência, vários profissionais retardam a adoção de tão produtiva solução, porque o ambiente não está preparado para absorvê-la. Outro exemplo é a exigência bastante civilizada de utilização dos cintos de segurança nas cidades, proteção direta às pessoas, quando, contraditoriamente, o ambiente externo está carregado de deficiências e riscos indiretos que dependem do controle de terceiros, atribuição típica do poder público. Cintos de má qualidade com fixação deficiente terão que conviver com taxis de duas portas, pistas mal conservadas, carros em péssimo estado de manutenção, sinalização precária e altas velocidades, desgastando a falsa imagem de segurança que a modernidade pode estar criando.

 

         Concluindo, as atividades-fins sofrerão grandes influências das tecnologias avançadas nos próximos anos, que utilizando-se cada vez mais de métodos indutivos, deverão necessitar de agilidade e cautela para  inferir as alternativas mais adequadas para cada caso. Em qualquer hipótese, o ambiente e a cultura local serão fortes condicionantes para o sucesso de adoção das novas tecnologias.

 

         Cristiane Magdalena d’Avila Garcez é economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com mestrado em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, na área de inovação tecnológica e organização industrial. Entrevistada sobre novos materias e transferência de tecnologia, aborda os aspectos estratégicos destes assuntos no contexto das tecnologias avançadas e da economia.

 

 

Garcez: Qual a importância dos chamados novos materiais para o momento atual? Em que contexto eles estão inseridos?

 

Cristiane: Transformações radicais e abrangentes vêm ocorrendo mundialmente no âmbito da produção e das atividades de ciência e tecnologia, e estas transformações estão atreladas ao uso intensivo de conhecimentos, elevados níveis de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e ênfase nas relações entre institutos de pesquisa, universidades e indústria.

            No que diz respeito aos materiais especificamente, é importante ressaltar que, os novos materiais não são necessariamente materiais novos, mas materiais que submetidos a determinados tratamentos passam a desempenhar novas funções e possuir novas aplicações. Os novos materiais têm penetração em diversos setores da indústria e a eles estão atreladas altas taxas de crescimento e elevada capacidade inovativa. Os novos materiais, juntamente com a biotecnologia, a química fina, a mecânica de precisão e a microeletrônica estão na base do novo paradigma tecnológico. Isto significa dizer que estes são os elementos chaves que influenciam a estrutura de custos relativos e agem como veículos de propagação da mudança tecnológica.

 

Garcez: Como os novos materiais modificam ou vêm modificando a estrutura produtiva?

 

Cristiane: Mais do que transformações na natureza do material, trata-se do advento de uma atividade criativa direcionada e alimentada pela incorporação de novos conhecimentos científicos e tecnológicos. Cada vez mais as estratégias ligadas aos materiais objetivam a elevação do valor contido no produto final - através da substituição de materiais e da maximização do desempenho dos mesmos - ao contrário do que vinha ocorrendo em décadas passadas, quando predominava o uso extensivo de materiais e a quantidade de material utilizado por produto era um importante indicador do progresso econômico.

            Além disto, a tendência é que os materiais sejam desenvolvidos com propósitos específicos e por setores envolvidos com o uso final do material. Assim, diversos materiais passam a competir entre si para assumir determinada função, a um determinado custo, promovendo a inversão da lógica da produção. Antes, o estágio inicial (material) determinava o estágio final (produto), hoje há condições para uma seleção do material mais adequado às especificações de um determinado produto.

 

Garcez: Como se coloca a questão da transferência de tecnologia neste cenário onde o conhecimento possui um papel central?

 

Cristiane: O acesso à tecnologia exerce um papel fundamental neste novo paradigma. Observa-se a intensificação das alianças tecnológicas e dos acordos de tecnologia, enfim, o fluxo de tecnologia se intensifica, dentro do espectro da globalização da economia e da maximização das potencialidades dos agentes envolvidos. A tendência é que uma empresa, por exemplo, possua relações com universidades, centros de pesquisa e com outras empresas, além de desenvolver tecnologia internamente também.

 

Garcez: A transferência de tecnologia está ocorrendo de forma diferente do que em épocas passadas?

 

Cristiane: Sim. As condições para isso se tornaram mais complexas do que em épocas anteriores. A diversificação do processo de capacitação tecnológica realizada pelas firmas, através dos convênios, licenciamentos e desenvolvimento próprio, espelha a necessidade da busca de diferentes canais de tecnologia, seja pelo reconhecimento de que é importante haver um direcionamento dos negócios da firma, seja pelas limitações contidas em cada um daqueles mecanismos de acesso à tecnologia.

            Por um lado, o licenciamento de tecnologia já desenvolvida por outra empresa permite o acesso a informações decodificadas para o mercado. Por outro lado, há as limitações da oferta das tecnologias de ponta, uma vez que a difusão internacional de tecnologia ocorre quando esta já atingiu a maturidade. Desta forma, a transferência de tecnologia ocorre através de diversos canais e em conjunto com o desenvolvimento interno à firma.

 

Garcez: Os novos materiais estão presentes na economia do Brasil?

 

Cristiane: Verifica-se a penetração dos novos materiais em algumas áreas da indústria brasileira. É clara a participação, no processo de capacitação nacional, das atividades de pesquisa e desenvolvimento sobre os novos materiais realizadas em instituições de ensino e pesquisa, embora os laços com a indústria ainda sejam insuficientes.

            As atividades tecnológicas, nesta área, realizadas no interior das firmas, não são uma constante, em particular no caso das empresas de capital externo. As empresas envolvidas na produção de novos materiais metálicos, no entanto, caracterizam-se por investirem em atividades internas de P&D. Empresas do segmento de cerâmicas avançadas, flexíveis, de pequeno e médio porte, embora não realizem P&D de forma significativa, foram constituídas em articulação e nas proximidades de centros de pesquisa e universidades, revelando um padrão de comportamento típico do atual paradigma tecnológico.

 

Garcez: E quanto ao acesso à tecnologia externa por parte das empresas instaladas no país?

 

Cristiane: Pode-se dizer que, além dos canais tradicionais de transferência de tecnologia - como o investimento direto, presente principalmente no segmento de plásticos avançados,  e o licenciamento de tecnologia através de contratos depositados junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) - vem sendo utilizado o acesso a informações através de usuários especializados. Esta prática ocorre principalmente no segmento de compósitos avançados (conjugação de dois materiais da mesma natureza ou não), onde a etapa do projeto é de grande conteúdo tecnológico, por conter as especificações da peça em compósito.

       

Garcez: E a nível mundial? Como vem sendo tratada a questão dos novos materiais pelos países centrais?

   

Cristiane: Os países membros da Comunidade Econômica Européia (CEE) e o Japão, principalmente, possuem programas direcionados para a área dos novos materiais. Os esforços dos programas japoneses colocam o país na liderança dos segmentos de cerâmicas avançadas e de semicondutores, bem como na produção de fibras de carbono,  principal insumo para compósitos avançados. Entre as prioridades dos programas japoneses está a definição de áreas onde as inovações  resultem em relevantes impactos nos setores da economia.

            Na Europa, alguns projetos são financiados pela CEE e pelas empresas privadas e outros não possuem temas prioritários ou recursos para financiamento, se propondo a intermediar negociações com instituições de crédito e promover parcerias tecnológicas.

            Nos EUA, por outro lado, não existem programas governamentais para os novos materiais, apenas os setores de energia e defesa possuem política federal bem definida. Mas mesmo nos EUA, onde a liderança em vários ramos da ciência e tecnologia é alavancada por investimento privado em P&D, as suas agências federais destinam partes significativas dos orçamentos aos novos materias.

 

Garcez: A que é atribuída a necessidade de promoção do desenvolvimento nesta área?

 

Cristiane: Os novos materiais, base do novo paradigma tecnológico, estão associados a elevados níveis de inovações, acarretando ganhos de competitividade e ganhos comerciais. Por outro lado, são requeridas prévias acumulações de conhecimento, recursos humanos especializados e infra-estrutura de ciência e tecnologia. Uma política bem concebida e executada pode ser capaz de promover um ambiente favorável ao desenvolvimento desta área, sem incorrer nos erros das políticas protecionistas adotadas em outras épocas. Para isso é preciso considerar, entre outras questões, as diferentes naturezas dos materiais; o papel das firmas enquanto centro da acumulação tecnológica; e as relações intersetoriais.

 

          

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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