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EMPRESA VIRTUAL: Realidade ou imaginação ?

A aceleração do desenvolvimento tecnológico tem tornado, na presente transição milenar, as fronteiras entre o real e o imaginário cada vez mais tênues. As empresas virtuais estão nestas fronteiras e deverão ocupar destacadas posições na Sociedade do Conhecimento que se aproxima.

             A Reengenharia centrada nos Sistemas de Informação, a terceirização, o "outsourcing" (consultoria participativa) e as parcerias de um modo geral estão alterando os tradicionais perfis das organizações, que ainda pressionadas pela era do conhecimento tendem a estimular os vínculos denominados de empresas virtuais.

             As empresas ou corporações virtuais constituem uma recente opção de associação informal entre organizações ou profissionais, para constituir um ambiente tecnológico, visando o aproveitamento de oportunidades do mercado.  Foram inspiradas na realidade virtual da computação, que é uma realidade simulada, ou ainda na memória virtual dos computadores, que lhes permitem processar maiores volumes de dados como se possuissem mais memória do que têem realmente.

             A ênfase de uma empresa virtual é, portanto, atender as oportunidades de mercado com competência e agilidade, através de uma estrutura leve, de custos reduzidos.

             Quando a oportunidade a ser aproveitada pela empresa virtual é o próprio potencial tecnológico de profissionais altamente qualificados, e neste caso encontra-se a PERFORMANCE  VIRTUAL para a Tecnologia da Informação por nós vivenciada, alguns problemas precisam ser destacados  durante a sua mobilização, na expectativa das reais oportunidades a que se destina.

              Nesta hipótese a oportunidade original não está no mercado, como um cliente em demanda de serviço, ao contrário, a oportunidade é o fornecimento do serviço de alta tecnologia para a Sociedade do Conhecimento que se aproxima. Por conseguinte afloram as expectativas de atuação e agravam-se os seguintes aspectos:

             - atualização e difusão metodológicas aceleradas;

            - propriedade intelectual indefinida;

            - rodízio de alocação aos projetos face as oportunidades;

            - critérios de remuneração diferenciados pelos projetos;

            - disponibilidade e comprometimento restritos dos participantes;

            - gerenciamento sensível em decorrência das exigências pessoais.

             Mesmo assim, a empresa virtual aponta como sendo uma alternativa para a integração de profissionais de alta qualificação a serviço do mercado. Compete às gerências as iniciativas para modelar a empresa virtual e acompanhar as possíveis distorções. Novos processos de trabalho precisam ser implantados à luz das tecnologias disponíveis. Correio eletrônico, fax e vídeo-conferência são indispensáveis para a redução de reuniões e de conversas telefônicas repetitivas. A afinidade tecnológica, com atualizações periódicas dos métodos dinâmicos de trabalho, precisam ser consideradas na mobilização dos parceiros, acompanhadas pela gerência dos prazos, custos e qualidade dos produtos e serviços.

 

            VIRTUAL

             A empresa virtual encontra-se entre a realidade e o imaginário.

             A palavra virtual significa o que existe como faculdade, mas sem exercício ou efeito atual. Ou ainda, o que é suscetível de se realizar, que tem potencial para ocorrer.

             Na ótica, a imagem virtual é obtida pelo prolongamento dos raios luminosos, o que faz parecer que a imagem esteja por trás de um espelho, na mesma distância que se encontra do objeto.

                      Na "realidade virtual" produzida pelos computadores simula-se a realidade com tanto realismo que aparenta ser real. A multimídia associada à realidade virtual está ampliando exponencialmente suas aplicações. Instrumentos fictícios produzem sons maravilhosos quando "tocados" por músicos reais, e maquetes eletrônicas permitem que compradores "visitem" com rapidez os imóveis virtuais em exposição, mesmo que na realidade estejam distantes entre si.

             Em síntese, a tecnologia da informação está modificando a estrutura da realidade através da integração de dados reais e imaginários,  simulando processos com tal qualidade que não podemos mais assegurar, sem acurado estudo, se presenciamos realidades ou imaginações.

             O caderno de informática do Jornal do Brasil entrevistou Charles Ostman, que participou do projeto "Guerra nas Estrelas", e que faz pesquisas em sua empresa-laboratório montada na sua própria casa. Esteve no Rio participando da 2a. Mostra Atlantic de Realidade Virtual, quando demonstrou um ambiente por ele desenvolvido, utilizando um despretencioso 486 DX2 de 66 MHz. Na ocasião falou da nanotecnologia, tecnologia anã, que prevê a criação de máquinas microscópicas, orgânicas ou inorgânicas, o que permitirá a manipulação dos átomos!

             Algumas empresas no nosso país começam a adotar certa virtualidade organizacional ao alocarem parte dos seus empregados nas suas próprias residências. Neste caso estão predominando as atividades de consultoria, informática, pesquisa, telemarketing e vendas. O exemplo das empresas virtuais vai colaborar para acelerar a redução das estruturas organizacionais nas empresas formais, tornando-as mais ágeis, econômicas e produtivas.       

             A palavra virtual nos parece muito adequada para representar a nebulosidade crescente que está ocorrendo entre a realidade e o imaginário.
            REALIDADE

             Em princípio, real é o que existe de fato, aquilo que é verdadeiro.

             Até o início do presente século, realidade era tudo o que fosse percebido pelos sentidos. "Ver para crer" era uma realidade. Com o advento da Teoria da Relatividade e da Física Quântica, foi necessário incluir as percepções não sensoriais como realidades, desde que provadas pela matemática.

             A ficção científica, em particular a cinematográfica, antecipou-se muitas vezes à realidade, simulando situações consideradas imaginárias num determinado momento.

 

            IMAGINÁRIO

             A imaginação produz imagens através do pensamento fora do tempo e do espaço, sendo resultante do acúmulo de experiências essenciais à criatividade, onde a vontade própria é fundamental. Criatividade significa entrar no desconhecido atavés da percepção intuitiva, que se processa no lado direito do cérebro, em complementação ao raciocínio lógico e à linguagem produzidos pelo lado esquerdo.

             É fundamental imaginar para ser criativo!

             Há um certo antagonismo entre a criatividade e os rigores dos métodos, no entanto, a criatividade sem o acompanhamento dos referidos métodos pode limitar a produtividade. A criatividade inovadora precisa ser livre de preconceitos, porém a criatividade nas soluções de problemas deve estar condicionada por métodos dinâmicos orientados para a produção.

             À semelhança da comparação acima entre a criatividade e os métodos, existe um paralelo entre a realidade e o imaginário no que se refere também à produção tecnológica. A imaginação estará a serviço da produtividade enquanto não for ilusória ou alucinação!

             A ilusão é o engano dos sentidos ou da inteligência, provocando uma interpretação errada de um fato. A alucinação pode ser entendida como uma sensação produzida por algo inexistente, decorrente do obscurecimento passageiro das faculdades mentais. Assim, a miragem é uma ilusão que pode provocar a alucinação dos viajantes nos desertos. Devido ao calor, ocorre um fenômeno ótico que inverte a imagem dos objetos distantes face à densidade desigual das camadas de ar. O espelhismo é o mesmo efeito ótico, em sentido contrário.  

             Em consequência, devemos ser inovadores, porém cautelosos, no trato crescente da ambigüidade entre o real e o imaginário no ambiente científico-tecnológico da Sociedade do Conhecimento que se aproxima. Precisamos nos preparar para a transferência desses conhecimentos às pessoas mais simples, lembrando quantos constrangimentos mentais foram causados pelas imagens reais da chegada do homem à lua, há vinte anos atrás.

 

            CONHECIMENTO 

                       O conhecimento é a forma organizada de informações consolidadas pela mente humana, através dos seguintes mecanismos cognitivos:

                         - Inteligência;

                        - Memória e

                        - Atenção

                        Estamos vivenciando a primeira década em que o conhecimento é mais importante do que a inteligência pura. Uma pessoa dotada de  inteligência, memória e atenção medianas pode elaborar mais o conhecimento do que uma outra com elevado nível de inteligência desacompanhada de satisfatória memória e atenção.

             Qualquer engenharia se destina à produção de componentes para o bem-estar e a segurança das pessoas.  A Engenharia de Software está para a informação, como a Engenharia do Conhecimento está para os mecanismos mentais, utilizando-se da Informática e de procedimentos que simulem as faculdades cognitivas das pessoas.

             A Engenharia do Conhecimento tem o compromisso de tornar produtivo o conhecimento humano, de forma interdisciplinar, utilizando-se das  tecnologias oriundas:

             - da Informática;

             - das Ciências Formais

                        .Lógica

                        .Matemática;

             -  das Ciências Humanas

                        .Linguística

                        .Psicologia

                        .Sociologia

                        .Educação;

             - e das Neurociências.                 

             No próximo artigo vamos dar continuidade a este assunto, abordando a Comunidade Virtual e a Representação do Conhecimento face ao desenvolvimento exponencial da tecnologia.

            
Convidei o Professor Emmanuel Passos, Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Sistemas e Computação do IME,  pesquisador pioneiro da área de Inteligência Artificial e Diretor Técnico da TECSIS: Tecnologia de Sistemas Inteligentes Ltda a conceder a entrevista que sintetizamos neste artigo.

 

 C. Garcez:

            O que real ou imaginário numa decisão?

 

Emmanuel Passos:

                        Eu trabalho com Sistemas de Apoio à Decisão, e o que é real numa decisão é que se usa lógica do ponto de vista do existente para se tomar uma decisão; e o imaginário é quando você toma a decisão baseada em "insights" que vem da sua cabeça, como por exemplo, quando se compra determinada ação sem que haja alguma informação lógica apontando para a sua valorização.

 C. Garcez:

            O que é Engenharia do Conhecimento num processo de decisão?

 Emmanuel Passos:

               Nós, que trabalhamos com Engenharia do Conhecimento, temos a peocupação de representar no computador o conhecimento da área ou do especialista no assunto que vai ser tomada a decisão. E, tentamos de alguma forma ampliar esse conhecimento do especialista, introduzindo heurísticas  (método criativo, intuitivo e lógico de resolução de problemas, com tentativas e erros), nesse processo representado na máquina, normalmente nos limites do universo do especialista.    

 C. Garcez:

            Mas se o universo desse especialista for limitado a conhecimentos lógicos, específicos do seu universo de atuação?

 Emmanuel Passos:

             Bem, nesse caso a decisão, que será tomada pelo sistema baseada no conhecimento do sistema especialista, será limitada.

            Você sabe que hoje em dia as pessoas que têm uma visão restrita a determinada área de conhecimento, toma decisões não tão acertadas quanto aquelas que têm uma visão holística (do todo) do problema. É por isso que as empresas, hoje em dia, estão treinando os seus executivos para que eles não limitem sua visão às fronteiras do real que eles aprenderam, ou seja, o que eles percebem com a sua consciência limitada. Estes treinamentos, que incluem aprender a meditar e deixar fluir a sua mente do lado direito (a mente criativa), visam ampliar a sua consciência para que quando for tomada uma decisão, ela seja baseada no todo, considerando os objetivos da decisão e os apectos humanos e do ambiente da decisão.

 C. Garcez:

            O real e o imaginário podem se integrar no processo de decisão?

 Emmanuel Passos:

             Exatamente, deseja-se com isso que aquilo que para o executivo era imaginário, que ele não podia usar na sua decisão, que ele use, que ele possa ampliar a sua consciência, auto-limitada a conhecimentos sobre determinada área, agora ampliada por conhecimentos e percepções que ele antes não dava importância.

 C. Garcez:

            A Engenharia do Conhecimento, utilizando-se de Sistemas de Apoio à Decisão, tem como levar em consideração aspectos imaginários na solução do problema?

 Emmanuel Passos:

             É claro que sim, mas o sistema ficará muito mais complexo, entretanto esta é a tendência mundial, pois isto pode ampliar a qualidade da decisão, através de fatores ainda hoje considerados subjetivos.

Robson Gomes Pedreira disse:

Muito bom!!

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